sábado, 1 de novembro de 2025

Contribuições da obra “Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786–1888)” para a História Ambiental e, consequentemente, para a Educação Ambiental Crítica

AUTOR: Dr. Bread Soares Estevam

1. Tema central e objetivo

O artigo analisa as contribuições da obra Um sopro de destruição (Pádua, 2004) para o desenvolvimento da História Ambiental e suas implicações para a Educação Ambiental Crítica (EAC).

O objetivo é demonstrar como a investigação histórica de José Augusto Pádua sobre o pensamento político e a crítica ambiental no Brasil escravista oferece fundamentos teóricos, éticos e pedagógicos para uma educação ambiental que compreenda a crise ecológica como produto histórico, social e político, e não como mero problema técnico.

2. Problematização

A Educação Ambiental Crítica enfrenta o desafio de compreender a origem histórica da degradação ambiental brasileira e suas conexões com a colonização, o escravismo e o modelo agroexportador.

A obra de Pádua propõe um resgate histórico e conceitual dessa problemática.
Pergunta central:

De que maneira a leitura historiográfica de Pádua contribui para fortalecer práticas educativas críticas que historicizem, politizem e descolonizem a compreensão da crise ambiental?

3. Fundamentação teórica

  • José Augusto Pádua (2004): investiga as críticas ambientais no Brasil entre 1786 e 1888, revelando que o pensamento político sobre a destruição da natureza já existia no período escravista.

  • Educação Ambiental Crítica: fundamentada em Paulo Freire (1996), Enrique Leff (2001), Carlos Frederico Loureiro (2004) e Philippe Layrargues (2014), defende que a educação deve articular história, política e ecologia para promover emancipação e justiça ambiental.

  • Convergência teórica: ambos os campos — História Ambiental e EAC — reconhecem a crise ambiental como resultado histórico de estruturas de poder, exploração e desigualdade.

4. Contribuições da obra de Pádua para a História Ambiental

  1. Historização da destruição ambiental: a devastação da natureza brasileira tem raízes nas práticas econômicas do período escravista e nas políticas coloniais de exploração.

  2. Crítica ao paradigma do desenvolvimento: Pádua mostra como o pensamento político do século XIX já reconhecia os limites ecológicos da produção baseada em monoculturas e extração intensiva.

  3. Ampliação da temporalidade da crise: ao examinar o período 1786–1888, a obra desloca a noção de “crise ambiental” do presente para uma longa duração histórica.

  4. Diálogo entre ecologia e política: a História Ambiental é entendida como leitura crítica das relações entre poder e natureza.

5. Relações entre a obra e a Educação Ambiental Crítica

A partir de Pádua, a EAC pode:

  • compreender o ambiente como construção histórica;

  • identificar as origens sociais e políticas da desigualdade ambiental;

  • promover a conscientização crítica sobre os padrões de exploração do território e dos corpos;

  • desenvolver práticas educativas que unam memória, território e cidadania ecológica.

Assim, a obra de Pádua fortalece a EAC como prática de leitura histórica e emancipação social, articulando conhecimento, ética e ação política.

6. Aplicações pedagógicas

A leitura de Um sopro de destruição inspira práticas como:

  • análises históricas locais, relacionando o período escravista às transformações territoriais atuais;

  • oficinas de memória ambiental, com registros orais e arquivos históricos;

  • debates sobre racismo ambiental, conectando a herança escravista à desigualdade ecológica contemporânea;

  • projetos interdisciplinares que unam História, Geografia, Sociologia e Educação Ambiental.

Essas experiências promovem educação política, crítica e ecológica — conforme a pedagogia freireana do diálogo e da transformação social.

7. Considerações finais

A obra de José Augusto Pádua é fundamental para compreender o enraizamento histórico da crise ambiental brasileira e para consolidar a Educação Ambiental Crítica como campo político e epistemológico.

Ao revelar que já havia pensamento ambiental durante o Brasil escravista, Pádua rompe com a ideia de que a consciência ecológica é fenômeno moderno.

Seu trabalho convida educadores e pesquisadores a repensar os currículos escolares e acadêmicos, incluindo a história da destruição ambiental como tema de formação ética e cidadã.

A Educação Ambiental Crítica, ao dialogar com a História Ambiental de Pádua, se reafirma como prática de resistência, memória e esperança.

Acesse o texto completo no link a seguir: Texto Completo


*Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas) da Universidade Federal do Rio Grande; Especialista em Educação Ambiental; Licenciado em Pedagogia; Bacharel e Licenciado em História; Tecnólogo em Educação Social; Estudante do curso de Especialização Latu Sensu em Educação Especial e Inclusiva na Uninter | Historiador com registro profissional no Ministério da Economia; Pedagogo com inscrição no Conselho Federal de Educadores e Pedagogos; Pesquisador de temáticas transversais relacionadas à Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas).

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