quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Contribuições da Educação Ambiental Crítica nas práticas pedagógicas da Educação Indígena

AUTOR: Dr. Bread Soares Estevam

1. Tema central e objetivo

O artigo propõe uma reflexão sobre o diálogo entre a Educação Ambiental Crítica (EAC) e a Educação Indígena, evidenciando como a EAC pode contribuir para o fortalecimento das práticas pedagógicas interculturais em escolas indígenas.

O objetivo é compreender de que modo a EAC, ao reconhecer a diversidade de racionalidades e cosmologias, pode apoiar processos educativos baseados na ancestralidade, na espiritualidade e na reciprocidade com a natureza.

2. Problematização

A crise ambiental contemporânea é também uma crise civilizatória e epistemológica, marcada pela negação das cosmologias indígenas e pela imposição de uma racionalidade moderna, colonial e capitalista.

Diante disso, questiona-se: Como a Educação Ambiental Crítica pode contribuir para práticas pedagógicas indígenas voltadas à descolonização do saber e à justiça ambiental?

3. Fundamentos teóricos

  • Educação Ambiental Crítica (EAC): fundamentada em Paulo Freire, Enrique Leff, Loureiro e Layrargues, compreende a crise ambiental como reflexo das estruturas de poder do capitalismo e propõe a construção de uma racionalidade ambiental e emancipatória.

  • Educação Indígena: inspirada em autores como Ailton Krenak, Gersem Baniwa e Catherine Walsh, valoriza a pedagogia da terra, a oralidade, a espiritualidade e a interdependência entre seres humanos e natureza.

  • Convergência teórica: ambas partem de uma epistemologia relacional e decolonial, que vê o ambiente como sujeito e não como objeto.

4. Decolonialidade e epistemologias indígenas

A EAC, ao dialogar com a decolonialidade (Quijano, Mignolo, Santos), reconhece a existência de múltiplos modos de conhecer e de viver.

Os saberes indígenas — sobre o tempo, as plantas, os rios e o território — são epistemologias ambientais que desafiam o conhecimento ocidental e propõem uma racionalidade alternativa, baseada na reciprocidade e no respeito.

Assim, a Educação Ambiental deve tornar-se intercultural e contra-hegemônica, reconhecendo os povos originários como sujeitos de conhecimento.

5. A EAC como mediação pedagógica na Educação Indígena

A Educação Ambiental Crítica atua como mediação pedagógica ao:

  • favorecer o diálogo entre saberes científicos e tradicionais;

  • articular ética, espiritualidade e território como dimensões educativas;

  • fortalecer a autonomia das comunidades na construção de seus currículos;

  • incentivar práticas de resistência diante da devastação ambiental e da perda de territórios.

Essa mediação rompe com a lógica colonial da escola e a transforma em espaço de diálogo, reciprocidade e reexistência.

6. Práticas pedagógicas emancipatórias

Exemplos de práticas inspiradas pela EAC na Educação Indígena:

  • o uso do território como sala de aula viva, aprendendo com rios, florestas e ciclos da vida;

  • o cultivo das sementes tradicionais e o fortalecimento da agroecologia indígena;

  • a oralidade e as narrativas ancestrais como práticas de ensino;

  • a integração entre espiritualidade, arte e ecologia no currículo escolar.
    Essas experiências reforçam a dimensão ecológica, política e cultural da educação indígena.

7. Conclusão

A Educação Ambiental Crítica e a Educação Indígena compartilham o mesmo horizonte ético e político: a defesa da vida e a reconstrução das relações entre ser humano e natureza.

A articulação entre ambas possibilita a construção de uma educação decolonial, baseada na justiça ambiental, no reconhecimento dos saberes ancestrais e na sustentabilidade dos territórios indígenas.

A EAC, portanto, é uma ferramenta pedagógica de resistência e emancipação, que fortalece a escola indígena como espaço de luta, memória e esperança.

Acesse o texto completo no link a seguir: Texto Completo


*Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas) da Universidade Federal do Rio Grande; Especialista em Educação Ambiental; Licenciado em Pedagogia; Bacharel e Licenciado em História; Tecnólogo em Educação Social; Estudante do curso de Especialização Latu Sensu em Educação Especial e Inclusiva na Uninter | Historiador com registro profissional no Ministério da Economia; Pedagogo com inscrição no Conselho Federal de Educadores e Pedagogos; Pesquisador de temáticas transversais relacionadas à Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário