AUTOR: Dr. Bread Soares Estevam
1. Tema central e objetivo
O artigo propõe uma reflexão sobre o diálogo entre a Educação Ambiental Crítica (EAC) e a Educação Indígena, evidenciando como a EAC pode contribuir para o fortalecimento das práticas pedagógicas interculturais em escolas indígenas.
O objetivo é compreender de que modo a EAC, ao reconhecer a diversidade de racionalidades e cosmologias, pode apoiar processos educativos baseados na ancestralidade, na espiritualidade e na reciprocidade com a natureza.
2. Problematização
A crise ambiental contemporânea é também uma crise civilizatória e epistemológica, marcada pela negação das cosmologias indígenas e pela imposição de uma racionalidade moderna, colonial e capitalista.
Diante disso, questiona-se: Como a Educação Ambiental Crítica pode contribuir para práticas pedagógicas indígenas voltadas à descolonização do saber e à justiça ambiental?
3. Fundamentos teóricos
Educação Ambiental Crítica (EAC): fundamentada em Paulo Freire, Enrique Leff, Loureiro e Layrargues, compreende a crise ambiental como reflexo das estruturas de poder do capitalismo e propõe a construção de uma racionalidade ambiental e emancipatória.
Educação Indígena: inspirada em autores como Ailton Krenak, Gersem Baniwa e Catherine Walsh, valoriza a pedagogia da terra, a oralidade, a espiritualidade e a interdependência entre seres humanos e natureza.
Convergência teórica: ambas partem de uma epistemologia relacional e decolonial, que vê o ambiente como sujeito e não como objeto.
4. Decolonialidade e epistemologias indígenas
A EAC, ao dialogar com a decolonialidade (Quijano, Mignolo, Santos), reconhece a existência de múltiplos modos de conhecer e de viver.
Os saberes indígenas — sobre o tempo, as plantas, os rios e o território — são epistemologias ambientais que desafiam o conhecimento ocidental e propõem uma racionalidade alternativa, baseada na reciprocidade e no respeito.
Assim, a Educação Ambiental deve tornar-se intercultural e contra-hegemônica, reconhecendo os povos originários como sujeitos de conhecimento.
5. A EAC como mediação pedagógica na Educação Indígena
A Educação Ambiental Crítica atua como mediação pedagógica ao:
favorecer o diálogo entre saberes científicos e tradicionais;
articular ética, espiritualidade e território como dimensões educativas;
fortalecer a autonomia das comunidades na construção de seus currículos;
incentivar práticas de resistência diante da devastação ambiental e da perda de territórios.
Essa mediação rompe com a lógica colonial da escola e a transforma em espaço de diálogo, reciprocidade e reexistência.
6. Práticas pedagógicas emancipatórias
Exemplos de práticas inspiradas pela EAC na Educação Indígena:
o uso do território como sala de aula viva, aprendendo com rios, florestas e ciclos da vida;
o cultivo das sementes tradicionais e o fortalecimento da agroecologia indígena;
a oralidade e as narrativas ancestrais como práticas de ensino;
a integração entre espiritualidade, arte e ecologia no currículo escolar.
Essas experiências reforçam a dimensão ecológica, política e cultural da educação indígena.
7. Conclusão
A Educação Ambiental Crítica e a Educação Indígena compartilham o mesmo horizonte ético e político: a defesa da vida e a reconstrução das relações entre ser humano e natureza.
A articulação entre ambas possibilita a construção de uma educação decolonial, baseada na justiça ambiental, no reconhecimento dos saberes ancestrais e na sustentabilidade dos territórios indígenas.
A EAC, portanto, é uma ferramenta pedagógica de resistência e emancipação, que fortalece a escola indígena como espaço de luta, memória e esperança.
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*Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas) da Universidade Federal do Rio Grande; Especialista em Educação Ambiental; Licenciado em Pedagogia; Bacharel e Licenciado em História; Tecnólogo em Educação Social; Estudante do curso de Especialização Latu Sensu em Educação Especial e Inclusiva na Uninter | Historiador com registro profissional no Ministério da Economia; Pedagogo com inscrição no Conselho Federal de Educadores e Pedagogos; Pesquisador de temáticas transversais relacionadas à Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas).
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