Autor: Dr. Bread Soares Estevam*
RESUMO
*Explora as contribuições fundamentais da Educação Ambiental Crítica (EAC) para a análise e compreensão dos conceitos de distopia ambiental e utopia societária.
*Argumenta que a EAC oferece um arcabouço teórico e prático para desvelar as raízes socioeconômicas e políticas da crise ambiental, bem como para fomentar a construção de futuros justos e sustentáveis, transcendendo abordagens meramente informativas ou comportamentais.
*A análise distingue a EAC da Educação Ambiental Conservadora, aprofunda seus fundamentos teóricos e discute como ela instrumentaliza a sociedade para resistir a tendências distópicas e projetar utopias societárias equilibradas e equitativas.
Palavras-chave: Educação Ambiental Crítica; Distopia Ambiental; Utopia Societária; Ecologia Política; Justiça Ambiental.
1 INTRODUÇÃO
*A crise socioambiental contemporânea exige abordagens educacionais que vão além da mera transmissão de informações sobre problemas ecológicos.
*A Educação Ambiental Crítica (EAC) emerge como um campo de conhecimento e práxis fundamental para a compreensão dos conceitos de distopia ambiental e utopia societária.
Conceitos:
*Distopia ambiental: cenários futuros catastróficos, marcados pela degradação ecológica severa e suas consequências sociais.
*Utopia societária: projeção de uma sociedade ideal, justa e em harmonia com o meio ambiente.
*Objetivo do artigo: Analisar como a EAC, com seu enfoque na desnaturalização dos problemas ambientais e articulação com as dimensões sociais, políticas e econômicas, oferece ferramentas para desvelar as estruturas que conduzem à distopia e inspirar a construção da utopia.
2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA: FUNDAMENTOS E DISTINÇÕES
*A Educação Ambiental (EA) é um campo politicamente não homogêneo, exigindo posicionamento e distinção de abordagens.
*Distinção entre Educação Ambiental Conservadora e Educação Ambiental Crítica (Guimarães, 2004).
*Educação Ambiental Conservadora: Limita-se à transmissão de conhecimentos ecológicos e à mudança de comportamentos individuais, sem questionar as estruturas sociais e econômicas que geram a crise ambiental. É ineficaz por buscar soluções dentro do mesmo paradigma que originou a crise, e negligencia a totalidade complexa das relações socioambientais.
*Educação Ambiental Crítica (EAC): Contrapõe-se à visão conservadora, situando-se no horizonte da ação política da educação voltada para a transformação social.
*Fundamentos Teóricos da EAC:
*Fundamentada na Teoria Crítica, dialoga com autores como Paulo Freire, Milton Santos e Edgar Morin.
*De Freire, herda a leitura problematizadora e contextualizadora do real, buscando a emancipação dos sujeitos pela práxis.
*De Santos, a compreensão do espaço socioambiental como reflexo da dialética do real, evidenciando a interação local/global e as lutas de classe.
*De Morin, o pensamento complexo, que reconhece a inter-retro-ação do todo e das partes, da ordem e da desordem.
*Princípios da EAC: Totalidade, práxis, historicidade, realidade socioambiental por meio do trabalho e emancipação.
*Busca desvelar embates por hegemonia e instrumentalizar atores sociais para intervir na realidade.
*Exige a "práxis": reflexão que subsidia a prática criativa e vice-versa, em um movimento coletivo conjunto de transformação da realidade.
*A pedagogia crítica que sustenta a EAC baseia-se no Materialismo Histórico Dialético (Marx e Engels), utilizando categorias como totalidade, concreticidade, historicidade e contraditoriedade.
3 DISTOPIA AMBIENTAL E A LÓGICA DO CAPITAL
*A distopia ambiental não é acidente, mas resultado direto da intensificação da lógica capitalista e de suas práticas de exploração e esgotamento de recursos naturais.
*A degradação ambiental está intrinsecamente ligada à desigualdade social e às relações de poder.
*Ecologia Política: Perspectiva central para a EAC que compreende o meio ambiente como político, resultante das relações de produção e poder.
*A literatura distópica retrata paisagens destruídas, escassez de recursos, perda de zonas costeiras e evidência de aquecimento global. Também revela vulnerabilidades, injustiças espaciais, sociais ou ambientais e atitudes negativas em relação ao meio ambiente.
*Justiça Ambiental: Conceito fundamental para a EAC que propõe análise complexa das relações sociais/poder/meio ambiente, buscando romper com a dicotomia humanidade/natureza e integrar a questão ambiental às pautas de justiça social e equidade.
*Exemplificação: Populações marginalizadas, especialmente as não brancas, são desproporcionalmente afetadas pela poluição e exploração ambiental, evidenciando o racismo ambiental.
*A lógica capitalista predatória intensifica a desigualdade ambiental e social, promovendo a colonização tóxica e a mercantilização da discussão ambiental.
*O esgotamento de recursos em países de capitalismo central agrava a exploração em países de capitalismo periférico.
*Exemplo de cooptação: O Estado pode ser cooptado por interesses capitalistas na apropriação de mecanismos de controle ambiental (exemplo da APA-Sul em Minas Gerais), resultando em mais desigualdade e degradação.
4 UTOPIA SOCIETÁRIA E O PAPEL TRANSFORMADOR DA EAC
* A utopia societária é a aspiração por um futuro de coexistência em harmonia com a natureza, pautada pela justiça social, equidade e sustentabilidade.
*A EAC é crucial na projeção e construção dessas utopias, não como devaneios, mas como horizontes reguladores que inspiram a ação transformadora.
*Ao desvelar as estruturas de poder e contradições do capitalismo, a EAC capacita indivíduos e coletivos a imaginar e lutar por alternativas.
*A abordagem dialética da EAC estimula um "movimento coletivo conjunto" que atua como "contra-correnteza" ao paradigma dominante, buscando construir uma nova realidade.
*Implica em ações pedagógicas que promovem a práxis, a contextualização da realidade socioambiental e a formação de cidadãos ativos e engajados.
*A EAC não se restringe ao aprendizado individual, mas se dá na relação com o coletivo e o mundo, fomentando empatia, solidariedade e sentimento de pertencimento.
*Transita entre ciências naturais e humanas, articulando saberes para construir uma compreensão holística e complexa.
*Ao promover o desvelamento das relações de poder e mecanismos ideológicos, a EAC instrumentaliza a sociedade para uma inserção política ativa na construção de uma sociedade ambientalmente sustentável e justa (utopia societária).
5 CONCLUSÃO
*A EAC oferece um arcabouço teórico e metodológico robusto para a compreensão da distopia ambiental e para a projeção e construção de utopias societárias.
*Ao questionar as raízes estruturais da crise, desmistificar a neutralidade da ciência/tecnologia e promover a práxis transformadora, a EAC capacita os sujeitos a resistir às narrativas distópicas e a construir ativamente futuros equitativos e sustentáveis.
*A luta por uma utopia societária é um processo contínuo de engajamento crítico e ação coletiva, impulsionado pelos princípios e valores da EAC.
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*Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas) da Universidade Federal do Rio Grande; Especialista em Educação Ambiental; Licenciado em Pedagogia; Bacharel e Licenciado em História; Tecnólogo em Educação Social; Estudante do curso de Especialização Latu Sensu em Educação Especial e Inclusiva na Uninter | Historiador com registro profissional no Ministério da Economia; Pedagogo com inscrição no Conselho Federal de Educadores e Pedagogos; Pesquisador de temáticas transversais relacionadas à Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas).
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