sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Educação Ambiental Crítica e as Dimensões Materiais e Econômicas da Educação: Uma Análise a partir da Pedagogia Libertadora

 Autor: Dr. Bread Soares Estevam*

Resumo

Este artigo acadêmico propõe uma análise aprofundada das intersecções entre a Educação Ambiental Crítica (EAC) e as dimensões materiais e econômicas da educação, sob a ótica da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire. Fundamentado nos pressupostos de autores da EAC como Carlos Frederico Loureiro e Gustavo Ferreira da Costa Lima, o estudo explora como a crise socioambiental é intrinsecamente ligada às estruturas socioeconômicas e como a educação pode atuar na problematização e transformação dessas realidades. Argumenta-se que a compreensão crítica das bases materiais e econômicas da sociedade é crucial para o desenvolvimento de práticas pedagógicas emancipatórias, que promovam a conscientização e a práxis em prol de uma sociedade mais justa e ecologicamente equilibrada. A metodologia empregada baseia-se em pesquisa bibliográfica e análise crítica de conceitos, buscando sintetizar as principais contribuições teóricas para a construção de uma perspetiva integradora da educação ambiental.

Palavras-chave

Educação Ambiental Crítica; Dimensões Materiais da Educação; Dimensões Econômicas da Educação; Pedagogia Libertadora; Paulo Freire; Economia Política Ambiental; Crise Socioambiental.

1. Introdução

  • Contextualização da Crise Socioambiental: Apresentar a complexidade da crise ecológica e social contemporânea, destacando a necessidade de abordagens educacionais que vão além da superficialidade.

  • A Emergência da Educação Ambiental Crítica (EAC): Introduzir a EAC como uma vertente da Educação Ambiental que busca as raízes estruturais dos problemas ambientais, integrando as dimensões sociais, políticas, culturais, ecológicas, materiais e econômicas.

  • A Pedagogia Libertadora de Paulo Freire como Arcabouço: Justificar a escolha da Pedagogia Libertadora como lente teórica para analisar as dimensões materiais e econômicas na EAC, enfatizando seu potencial para a emancipação e transformação.

  • Objetivo do Artigo: Explorar como a EAC, fundamentada na Pedagogia Libertadora, aborda e integra as dimensões materiais e econômicas da educação, e como essa compreensão pode informar práticas pedagógicas transformadoras.

  • Relevância do Estudo: Contribuir para a qualificação da EA, focando na crítica ao modelo econômico hegemônico e suas implicações ambientais e sociais, e na promoção de uma educação que "leia o mundo" de forma crítica.

2. Educação Ambiental Crítica: Fundamentos e a Questão Material

  • Distinção da EAC: Reafirmar a superação da visão naturalista e conservacionista, focando nas relações de poder, justiça ambiental e nas causas sistêmicas da degradação.

  • Paulo Freire e a Leitura Crítica da Realidade:

    • A "leitura do mundo" como premissa para a compreensão das causas da degradação ambiental, que são inerentemente materiais e econômicas.

    • A conscientização (conscientização) e a práxis (reflexão-ação) como elementos centrais para a transformação social e ambiental, que envolvem a superação das condições materiais de opressão.

    • A perspetiva dos oprimidos na análise dos problemas ambientais, relacionando-os diretamente às desigualdades socioeconômicas e à exploração dos recursos naturais e do trabalho.

  • Carlos Frederico Loureiro e a Ecologia Política:

    • A crítica contundente ao modelo de desenvolvimento capitalista e suas implicações para o meio ambiente e as sociedades, com foco no materialismo histórico-dialético.

    • A relação intrínseca entre a estrutura socioeconômica (modo de produção) e a degradação ambiental, não como eventos separados, mas como fenômenos interligados.

    • A emancipação e a cidadania planetária como objetivos da EAC, que exigem a superação das bases materiais da exploração e dominação.

  • Gustavo Ferreira da Costa Lima e o Pensamento Complexo:

    • A abordagem da ecologia política e do pensamento complexo para entender os desdobramentos político-culturais da questão ambiental, incluindo suas manifestações materiais e econômicas.

    • A crítica ao socioambientalismo que não questiona as bases econômicas do problema, reforçando uma visão superficial da crise.

3. As Dimensões Materiais e Econômicas na Educação Libertadora

  • Definição Ampliada das Dimensões Materiais e Econômicas: Discutir como a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, as relações de trabalho, a apropriação dos recursos naturais e a acumulação de capital impactam a formação humana, as relações sociais e o meio ambiente.

  • A Interdependência entre Base Material e Crise Ambiental: Analisar como a lógica econômica dominante (e.g., crescimento ilimitado, exploração de recursos, descarte) está na raiz da crise ambiental, e como a Pedagogia Libertadora oferece ferramentas para desvendar essa interconexão.

  • Crítica ao Consumismo e ao Modelo de Desenvolvimento Insustentável:

    • Como a EAC, sob a ótica freiriana, aborda a lógica do crescimento ilimitado, a obsolescência programada e a mercantilização da vida.

    • A necessidade de reavaliar os padrões de consumo e produção, não apenas individualmente, mas coletivamente, sob uma ótica crítica e transformadora.

  • Relações de Trabalho, Exploração e Meio Ambiente:

    • A exploração da força de trabalho e dos recursos naturais como faces da mesma moeda no sistema capitalista, revelando a dimensão material da opressão.

    • A precarização do trabalho e seus impactos diretos e indiretos na saúde ambiental dos trabalhadores e comunidades, e a importância de uma educação que denuncie essas realidades.

  • Justiça Ambiental e Desigualdades Econômicas:

    • Como as populações mais vulneráveis (marginalizadas economicamente) são desproporcionalmente afetadas pelos impactos ambientais (desastres, poluição, escassez de recursos), configurando uma injustiça material e econômica.

    • A EAC, inspirada em Freire, como ferramenta para denunciar e combater essas injustiças, buscando a equidade na distribuição de ônus e bônus ambientais e a transformação das relações de poder.

4. Práticas Pedagógicas da EAC para as Dimensões Materiais e Econômicas

  • Estratégias para integrar as dimensões materiais e econômicas nas diferentes modalidades educativas (formal, informal, não-formal), sempre com base nos princípios da Pedagogia Libertadora.

  • Na Educação Formal:

    • Análise Crítica: Estudo de cadeias produtivas, padrões de consumo e descarte, economia política dos recursos naturais em disciplinas como geografia, história, sociologia, economia e ciências.

    • Projetos Interdisciplinares: Investigação dos impactos socioeconômicos de atividades locais (indústria, agricultura, extrativismo, comércio) e suas relações com a degradação ambiental, envolvendo a comunidade escolar e local.

    • Debate e Proposição de Alternativas: Discussão sobre alternativas econômicas (economia solidária, consumo consciente, ecodesenvolvimento, decrescimento) e políticas públicas ambientais, incentivando a participação ativa dos estudantes na construção de soluções.

  • Na Educação Informal:

    • Diálogos e Reflexão Crítica no Cotidiano: Incentivo a diálogos familiares e comunitários sobre orçamento doméstico, consumo responsável, descarte de resíduos, e a influência da mídia e da publicidade nos padrões de consumo, promovendo a "leitura do mundo" no ambiente doméstico.

    • Valorização de Saberes Tradicionais: Reconhecimento e valorização de saberes e práticas de subsistência de comunidades tradicionais que promovem a sustentabilidade econômica local e a resiliência socioambiental.

  • Na Educação Não-Formal:

    • Oficinas e Cursos de Práxis: Desenvolvimento de oficinas e cursos sobre economia solidária, agricultura familiar, permacultura, cooperativismo, e outras práticas econômicas sustentáveis, com foco na ação transformadora.

    • Engajamento e Mobilização: Participação em movimentos sociais e ONGs que lutam por justiça ambiental, direitos econômicos de comunidades afetadas e a defesa de territórios, aplicando a práxis libertadora.

    • Espaços de Formação e Debate: Criação de círculos de cultura e espaços de debate sobre a economia política da crise ambiental, estimulando a reflexão crítica e a construção coletiva de conhecimentos e estratégias de ação.

5. Considerações Finais

  • Reafirmação da Centralidade: A centralidade das dimensões materiais e econômicas é indispensável para uma compreensão completa e transformadora da Educação Ambiental Crítica, especialmente sob a ótica da Pedagogia Libertadora.

  • EAC como Ferramenta de Emancipação: A necessidade de uma EAC que capacite os sujeitos a questionar as bases econômicas da crise, a desvelar as relações de poder e a propor alternativas viáveis e justas.

  • O Papel do Educador Ambiental Libertador: O educador ambiental como agente de transformação, mediando o conhecimento e a ação em prol de uma sociedade mais justa, equitativa, ecologicamente sustentável e verdadeiramente democrática.

  • Desafios e Perspetivas Futuras: Apontar desafios na implementação de uma EAC que integre efetivamente as dimensões materiais e econômicas, e sugerir futuras linhas de pesquisa e ação.


Acesse o texto completo no link a seguir: Texto Completo

*Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas) da Universidade Federal do Rio Grande; Especialista em Educação Ambiental; Licenciado em Pedagogia; Bacharel e Licenciado em História; Tecnólogo em Educação Social; Estudante do curso de Especialização Latu Sensu em Educação Especial e Inclusiva na Uninter | Historiador com registro profissional no Ministério da Economia; Pedagogo com inscrição no Conselho Federal de Educadores e Pedagogos; Pesquisador de temáticas transversais relacionadas à Educação Ambiental (Área: Educação; Grande Área: Ciências Humanas).

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